Nação rica, que nos últimos anos - sobretudo depois do terremoto de Kobe, em 1995 - investiu pesadamente no aperfeiçoamento dos sistemas de detecção, prevenção e socorro para reduzir os danos de terremotos e maremotos, o Japão é considerado o país mais bem preparado do mundo para enfrentar catástrofes naturais. A população sabe como agir nos casos graves. Sistemas públicos de alerta são frequentemente testados e respeitados pela população. Os grandes edifícios são construídos de acordo com técnicas que lhes permitem absorver os choques causados por fortes terremotos.
Ainda assim, o tsunami de sexta-feira arrastou, como brinquedos, automóveis, caminhões, contêineres, navios, casas e destruiu cidades inteiras. E ninguém sabe ainda quantos milhares de pessoas estão sepultadas sob a lama e os escombros produzidos pelo tsunami. Por enquanto, foram contados perto de 2 mil mortos. Centenas de milhares de pessoas perderam suas casas e estão abrigadas precariamente em escolas e outros edifícios públicos.
Em algumas regiões não há luz e o transporte público continua inoperante. As comunicações continuam precárias. Não há ainda estimativas confiáveis dos prejuízos materiais, que devem alcançar algumas dezenas de bilhões de dólares.
Os sérios danos sofridos pela maior usina nuclear do país, a de Fukushima, acrescentaram aos problemas já enfrentados pelo Japão o risco de uma tragédia comparável à ocorrida em Chernobyl, na Ucrânia (então parte da União Soviética), há 25 anos. Também neste caso, as consequências já teriam sido muito piores do que as registradas até agora se técnicas na época consideradas adequadas de prevenção de desastres não tivessem sido empregadas nessa usina, inaugurada no fim da década de 1960. O governo japonês vem procurando proteger as populações mais sujeitas a riscos de contaminação e tranquilizar os demais cidadãos a respeito de uma catástrofe nuclear.
Quaisquer que sejam seus resultados, o acidente de Fukushima - que pode se repetir em outra central nuclear, em Onagawa, mais ao norte - provoca dúvidas sobre o nível de segurança das usinas nucleares e deve estimular o debate internacional sobre a necessidade de tornar mais confiáveis essas centrais, que respondem por 30% da energia elétrica consumida no Japão - em alguns países da Europa têm papel ainda mais destacado.
Para a economia japonesa, a tragédia emerge num momento em que surgiam sinais de recuperação. A destruição foi tão grande na costa nordeste do país que paralisou as operações de importantes indústrias, como montadoras de automóveis, fábricas de motores, siderúrgicas, indústria eletrônica. Essas empresas abastecem o mercado interno, mas também fornecem para outras indústrias no exterior, motivo pelo qual tendem a estender para outros países os problemas da economia japonesa.
Certamente, as consequências teriam sido muito piores se o epicentro do terremoto mais forte registrado na sexta-feira, de 9 graus na escala Richter - e que provocou o tsunami -, estivesse localizado próximo a centros urbanos de outros países, e não, como neste caso, a 130 quilômetros da cidade de Sendai, na província de Miyagi. Mas, por suas dimensões, o que mais assusta na tragédia vivida pelo Japão é o fato de ela não deixar dúvidas de que, por mais bem preparado que esteja um país e por mais bem treinada que esteja sua população, é limitada a capacidade humana para conter os efeitos dos desastres naturais.
A pronta reação do governo japonês, com a cooperação da oposição, e a comovente solidariedade internacional - com o imediato envio de pessoal especializado em busca e socorro, equipamentos e alimentos - aliviam um pouco o drama de uma população traumatizada pela extensão da tragédia desencadeada pela natureza.
Tragédia no Japão deixou mais de 16 mil mortos ou desaparecidos.
TOKIO, 17 Mar 2011 (AFP) -O terremoto seguido por tsunami que devastou o nordeste do Japão há uma semana deixou 6.405 mortos confirmados e 10.259 desaparecidos, anunciou a polícia nesta sexta-feira.
Sete dias após a tragédia, as chances de se encontrar pessoas entre os escombros com vida são cada vez menores, e o número de mortos deve subir diariamente.
O número de feridos é de 2.409.
Reação de chineses a tragédia no Japão mostra rancor histórico.
Nem a magnitude do tremor, nem o número de vítimas fez do Japão merecedor de compaixão plena pelos chineses. As reações ao terremoto de 8,9 graus na escala Richter, segundo os Estados Unidos (o Japão considera que o terremoto foi de 9 graus), o maior a atingir o complexo de ilhas do Pacífico, na China são variadas, e muitas das opiniões expressas em fóruns da internet e salas de bate-papo mostram que o dragão também não esquece o passado, que tem nele as marcas de um Japão atroz e bárbaro da Segunda Guerra Mundial.
Em dezembro de 1937, a então capital chinesa Nanking foi tomada pelo exército nipônico, um episódio que ficou conhecido como "o estupro de Nanking", durante a segunda guerra Sino-Japonesa. Conforme o governo mandarim, mais de 300 mil chineses foram vítimas do ataque que durou seis semanas - dentre elas, calcula-se que algo entre 20 e 80 mil mulheres tenham sido violentadas sexualmente pelas tropas do Sol Nascente.
Passadas sete décadas, a capital do Império do Meio já foi mudada para Pequim. E a China tornou-se a segunda maior economia mundial - ultrapassando o Japão no final do ano passado. Sichuan, no sul do país, foi abalada por um sismo de 7,6 graus em 12 de maio de 2008 e perdeu 88 mil de suas vidas. Ainda assim, pela rede chinesa é possível encontrar o terremoto do Japão ao lado da palavra "karma".
No site Tudou (a versão chinesa do YouTube, bloqueado no país), um vídeo tirado do canal de televisão CCTV traz um comentário "porque é no Japão, eu estou feliz", postado por um internauta. Outros lembram do seu passado nacional com uma tragédia semelhante e mandam "condolências de Sichuan". Alguns ainda ameaçam os próprios compatriotas, atestando "odiar o sentimento de compaixão forçada" e questionando a verdadeira nacionalidade de um internauta que respondeu à tragédia mostrada no vídeo com pena.
"Acho que as reações dos chineses eram esperadas. Acho normal ter compaixão por aquele que sofre uma tragédia. Mas também é de se esperar que haja discriminação da parte de alguns por motivos históricos", avalia Fauna (que escolheu não divulgar seu nome chinês), editora do site chinasmack.com, que publica em inglês o universo dos Fóruns de internet mandarins e tem mais de 2 milhões de acessos por mês. Ela acrescenta que tais cyberespaços são amplamente difundidos como plataforma de debate de temas como este - as relações sino-japonesas.
Os esforços diplomáticos para melhorar a imagem do Japão na China parecem ter surtido algum resultado, e há usuários da rede que dizem estar comovidos pela tragédia, "afinal, japoneses também são gente". Outros até admiram o nível de civilidade atingido pelos nipônicos desde os anos 30. "Eles são muito educados. Aparecem saindo de dentro do metrô, mas ainda andando em fila".
Muitos dos chineses estão hoje conscientes de que o passado não poderá ser apagado, nem mesmo por um sismo, mas que as relações internacionais dependem do que a nova geração de chineses se propor a mudar - ou aceitar. Um internauta chamado "Luz Interior" replica um dos comentários mais raivosos lembrando que o mundo verá a reação chinesa. "Você quer nos fazer passar vergonha?! Não esqueça que Yunnan teve também um terremoto apenas um dia antes do Japão."
Estas mesmas reações tendem a criticar o governo japonês por suas iniciativas obscuras em relação à China - o Japão ainda não admite o número de mortes clamado pelo governo chinês em Nanking, e recentemente um novo episódio estremeceu as relações entre os países vizinhos, o caso da disputa das ilhas de Diaoyu -, e acreditam que o povo japonês é tão inocente quanto o de Sichuan. Internautas inclusive salutam a rápida resposta tomada pelo governo nipônico no caso como sendo uma lição a ser aprendida pelos chineses.
Fotos que mostram japoneses sentados ordenadamente em esacadas, deixando o espaço no meio livre para trânsito, foram apreciadas pelos chineses como uma "aula de etiqueta". Outros admirados fazem comparações com a situação vivida na China em 2008, e uma usuária, "angelfishes", diz ter lembranças de pagar 50 yuans (cerca de R$ 12) por um pacote de macarrão instantâneo em Sichuan. Outro usuário usa a comparação entre as imagens para criticar o governo americano, que insiste em promover a China ao patamar de nação desenvolvida para dividir as responsabilidades na arena internacional. "Sugiro que o Ministério das Relações Exteriores mostre as duas fotos para o Congresso americano. Duvido que em 50 anos eles irão chamar a China de um país desenvolvido de novo", sugere o usuário "Yaya".
Na memória coletiva chinesa, há dois episódios que dão o grau de xenofobia mostrado por alguns internautas nesta semana: o Século de Humilhação, passado depois da primeira Guerra do Ópio, no final do seculo XIX, e o estupro de Nanking. Fauna, editora do chinasmack.com, acredita ser difícil dizer se o povo mandarim teria a mesma reação a um terremoto semelhante na Inglaterra ou na França. E provável que cicatrizes sejam diretamente proporcionais ao tempo em que são cavadas no corpo nacional.
Em dezembro de 1937, a então capital chinesa Nanking foi tomada pelo exército nipônico, um episódio que ficou conhecido como "o estupro de Nanking", durante a segunda guerra Sino-Japonesa. Conforme o governo mandarim, mais de 300 mil chineses foram vítimas do ataque que durou seis semanas - dentre elas, calcula-se que algo entre 20 e 80 mil mulheres tenham sido violentadas sexualmente pelas tropas do Sol Nascente.
Passadas sete décadas, a capital do Império do Meio já foi mudada para Pequim. E a China tornou-se a segunda maior economia mundial - ultrapassando o Japão no final do ano passado. Sichuan, no sul do país, foi abalada por um sismo de 7,6 graus em 12 de maio de 2008 e perdeu 88 mil de suas vidas. Ainda assim, pela rede chinesa é possível encontrar o terremoto do Japão ao lado da palavra "karma".
No site Tudou (a versão chinesa do YouTube, bloqueado no país), um vídeo tirado do canal de televisão CCTV traz um comentário "porque é no Japão, eu estou feliz", postado por um internauta. Outros lembram do seu passado nacional com uma tragédia semelhante e mandam "condolências de Sichuan". Alguns ainda ameaçam os próprios compatriotas, atestando "odiar o sentimento de compaixão forçada" e questionando a verdadeira nacionalidade de um internauta que respondeu à tragédia mostrada no vídeo com pena.
"Acho que as reações dos chineses eram esperadas. Acho normal ter compaixão por aquele que sofre uma tragédia. Mas também é de se esperar que haja discriminação da parte de alguns por motivos históricos", avalia Fauna (que escolheu não divulgar seu nome chinês), editora do site chinasmack.com, que publica em inglês o universo dos Fóruns de internet mandarins e tem mais de 2 milhões de acessos por mês. Ela acrescenta que tais cyberespaços são amplamente difundidos como plataforma de debate de temas como este - as relações sino-japonesas.
Os esforços diplomáticos para melhorar a imagem do Japão na China parecem ter surtido algum resultado, e há usuários da rede que dizem estar comovidos pela tragédia, "afinal, japoneses também são gente". Outros até admiram o nível de civilidade atingido pelos nipônicos desde os anos 30. "Eles são muito educados. Aparecem saindo de dentro do metrô, mas ainda andando em fila".
Muitos dos chineses estão hoje conscientes de que o passado não poderá ser apagado, nem mesmo por um sismo, mas que as relações internacionais dependem do que a nova geração de chineses se propor a mudar - ou aceitar. Um internauta chamado "Luz Interior" replica um dos comentários mais raivosos lembrando que o mundo verá a reação chinesa. "Você quer nos fazer passar vergonha?! Não esqueça que Yunnan teve também um terremoto apenas um dia antes do Japão."
Estas mesmas reações tendem a criticar o governo japonês por suas iniciativas obscuras em relação à China - o Japão ainda não admite o número de mortes clamado pelo governo chinês em Nanking, e recentemente um novo episódio estremeceu as relações entre os países vizinhos, o caso da disputa das ilhas de Diaoyu -, e acreditam que o povo japonês é tão inocente quanto o de Sichuan. Internautas inclusive salutam a rápida resposta tomada pelo governo nipônico no caso como sendo uma lição a ser aprendida pelos chineses.
Fotos que mostram japoneses sentados ordenadamente em esacadas, deixando o espaço no meio livre para trânsito, foram apreciadas pelos chineses como uma "aula de etiqueta". Outros admirados fazem comparações com a situação vivida na China em 2008, e uma usuária, "angelfishes", diz ter lembranças de pagar 50 yuans (cerca de R$ 12) por um pacote de macarrão instantâneo em Sichuan. Outro usuário usa a comparação entre as imagens para criticar o governo americano, que insiste em promover a China ao patamar de nação desenvolvida para dividir as responsabilidades na arena internacional. "Sugiro que o Ministério das Relações Exteriores mostre as duas fotos para o Congresso americano. Duvido que em 50 anos eles irão chamar a China de um país desenvolvido de novo", sugere o usuário "Yaya".
Na memória coletiva chinesa, há dois episódios que dão o grau de xenofobia mostrado por alguns internautas nesta semana: o Século de Humilhação, passado depois da primeira Guerra do Ópio, no final do seculo XIX, e o estupro de Nanking. Fauna, editora do chinasmack.com, acredita ser difícil dizer se o povo mandarim teria a mesma reação a um terremoto semelhante na Inglaterra ou na França. E provável que cicatrizes sejam diretamente proporcionais ao tempo em que são cavadas no corpo nacional.
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